domingo, 24 de julho de 2022

Encontrar-se

Chegam dias que não sabemos mais quem somos.

Nossas mentes são violentamente prostituídas,

Violentadas, humilhadas, escravizadas e remuneradas.

No outro dia acordamos, lavamos o rosto, passamos batom e parafusamos um sorriso.

Corrida pela sobrevivência - sobre a vida sem vivência.

Chegam raros dias em que os cafetões me esquecem.

Já não sei mais quem sou, o que eu gosto ou o que quero fazer.

- Me perdi nos personagens, na eterna dança de morrer.

As vezes eu encontro fragmentos de mim:

Um livro que ainda não li,

Uma foto que há muito não via,

Uma música que há muito não ouvia.

Mas logo o tempo passa, e o circo se reabre.

Espero que dê tempo de comprar minha liberdade.

Rios em mim

 Hoje percebo que em mim correm rios,

Tantos, muitos deles subterrâneos.

Existe um riachinho, um dos primeiros,

Que corre triste, melancólico.

Tem rios de águas claras e rios de águas escuras.

Rios límpidos e rios que já foram poluídos.

O que mais me incomoda são os rios enterrados,

Os rios canalizados e represados.

Estes rios, que somem de vista,

Mas que não deixam de correr.

Se eu fico em silêncio, consigo ouvi-los.

Eles cantam e ecoam por dentro.

Imploram para fluírem, destruindo casas,

Vilarejos e cidades inteiras.

Quem errou? O rio ou o humano que o ignorou?

E o que fazer agora?

Desmorono nesta questão.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Sobre a estrada

Em susto com os ponteiros:
Já são 12 horas.
Distraído na estrada,
Não percebi o tempo passando.
Nesta manhã que se vai,
Ajunto recordações.

No meu rumo evitei deixar pegadas
Tive medo que vissem meus pés sujos
- Os mesmos pés que me guiaram
Nos quais agora há calos
E se alfinetam os espinhos que pisei.

Agora que já são 12 horas
A sujeira dos meus pés não incomoda tanto mais
Agora é necessário se chegar em um destino
- Antes que a noite caia
Antes que a estrada acabe
Antes que meus pés não me suportem mais

Essa viagem é curiosa:
Não existe destino, 
Nem placas e nem mapas.
Tudo que se leva é o que se sente
- E uma bússola em forma de coração.

Alegria se sente
Quando outros viajantes dividem esta estrada
Às vezes por segundos
Em um rápido aceno de mão
Às vezes por horas
Em completa comunhão.

Nesta estrada fantástica
Tantos momentos de sol
E outros tantos de chuva!
Na chuva desejamos o sol
No sol clamamos a chuva!








quinta-feira, 1 de março de 2018

Rocha ao mar

Pedaço de rocha preso ao mar,
banhado ao sal das lágrimas lunares,
atormentado por nômades correntezas,
passageiras, efêmeras, perpétuas.

Pedaço de rocha onipotente,
Vigoroso ao pôr-do-sol,
Solitário às constelações distantes,
Imóvel, rígido, impenetrável.

Seria a lua também um pedaço de rocha?
Porque choras com tanto amargor?
Um dia a rocha torna-se o mar.
Um dia a lua entrega-se ao amor.


quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Uma retrospectiva sobre 2015

Este é meu último texto de 2015. Pelo que pude contar, é o quarto post deste blog, o que me mostrou que poucas vezes parei para ouvir meu coração. E de fato, foi um ano muito importante para mim. Tudo começou com a vontade de mudar, de crescer. Como muitos brasileiros, optei por tentar a vida em São Paulo. Nunca havia morado em uma cidade com mais de 50 mil habitantes, e fui direto para a maior cidade da América Latina. Foi um tremendo passo para mim, que me vi em um cenário completamente agitado, materialista, compulsivo e solitário. Tento buscar as qualidades desta mudança, e o que me vem a mente são as diversas opções em diversos horários e o respeito a individualidade.

São Paulo para mim, se mostrou uma cidade bonita, cheia de vida. Porém, pude sentir a expressão "Selva de Pedra". Por muitas vezes senti falta de olhar o horizonte, o céu, as árvores. Tudo que cercou minha visão foram os edifícios intermináveis, os carros, as pontes. Do verde azul ensolarado para o cinza cor-de-areia nublado. Isso dá uma mexida dentro da gente. Sempre admirei as cores e as luzes dos dias, de uma forma que entendendo que elas conseguem alterar o meu estado de espírito.

No mais, abri meu coração para absorver tudo de bom que a cidade poderia me oferecer, as novas amizades, os novos círculos sociais, o novo emprego. E isso foi muito bom. O emprego novo me mostrou uma nova face da área comercial, a qual eu estava iniciando minha carreira. Vi pessoas vivendo para o trabalho, de maneira exaustiva, sendo cobradas massivamente por números e resultados.

Entrei na onda. Gosto de trabalhar, e não havendo nada de interessante para se fazer em casa, me joguei no trabalho, e no meio do ano, trabalhei todos os dias fazendo horas extras. Não foi bem uma escolha, pelo menos não consegui sentir que foi. Porém, correu tudo bem, até que eu simplesmente estafei.

Como coloquei no post anterior, exauri minhas energias. Nunca havia me sentido desta forma. E daí entendi que havia muita desordem dentro de mim, muita coisa que precisava ser ajustada. Foi um processo doloroso e lento, que até hoje precisa ser revisto.

Entretanto, foi bom. Entendi que não quero viver para trabalhar. E não quero sentir culpa em dizer isto. Quero poder trabalhar, poder estudar, amar as pessoas que amo, me exercitar e aprender coisas novas. E para ter tempo de tudo isto, preciso replanejar minha carreira. Quero conectar minha carreira ao que eu sou. Ao que eu gosto de fazer: Arte, comunicação, Criação, Inovação e Invenção. Ainda não sei bem quanto tempo levará, mas hoje acredito que este será meu norte profissional - espero que meu lado direito do cérebro não atrofie até lá.

2015 também foi o ano que assumi compromissos comigo mesmo. Assumi o compromisso de querer ter minha mulher por perto, e para isso, amadurecer e me tornar um homem crescido.

Assumi o compromisso de olhar para dentro, me entender e me aceitar da forma como sou e deixar claro para as pessoas que minha essência não é muito mutável.

Assumi o compromisso de levar mais a sério meus estudos e minha profissão, valorizando o tempo que dediquei à elas.

Passei a estudar mais os sentimentos, as expressões da nossa alma. Estou estudando meditação e me reconectando à minha espiritualidade.

2015 foi um ano lento e comprido, doloroso, difícil, mas talvez o ano em que mais cresci.

Quero encerrar 2015 como o autor que escreve fim na última página de seu livro. Quero abrir 2016 como um novo livro, mais maduro, mais centrado e quero escrever histórias bem felizes.

Hoje entendo a importância de comemorarmos ciclos. De termos esta sensação de que um pedaço de nós ficou para trás, preso nos portões do tempo. Isso ameniza o peso da bagagem, permite que o coração pulse esperançoso para os novos dias que virão.

Que Deus continue nos abençoando neste novo ano!

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Algumas notas sobre a depressão

Há muito tempo não escrevo. Sinto que estou enferrujado, ou que até mesmo perdi minha intimidade com as palavras. Também pode ser porque há muito tempo não tenho um tempo comigo mesmo e um "papel".

Acredito que esteja na hora de colocar essas palavras aqui. Elas já estão borbulhando há algumas semanas, pedindo para sair.

Em um ano passei por tantas transformações, e tão rápidas, que me perdi. Não sei mais em qual transformação eu deixei para trás meu conforto.

Eu entrei em colapso mental. Exauri totalmente minha capacidade, cheguei à não saber o caminho de casa, cheguei à não sentir o gosto da comida. Lia coisas e elas não diziam nada. Senti tanto medo, que não conseguia dormir. Ainda sinto este medo algumas vezes, e ele pode ser tão real que paralisa os movimentos.

Me deprimi, em um processo que desconfio que tenha se iniciado há muito tempo. Esse processo me levou à todas as mudanças bruscas que tenho feito.

Estou aprendendo a conviver com a depressão, ansiedade ou seja lá que diabos seja esse sufoco que aparece sem motivos no coração, e vem vinculado à pensamentos negativos e à preocupações que não preciso ter - mas tenho.

O motivo deste texto, talvez seja para que ele seja encontrado por pessoas que estejam passando por isto. Eu acredito muito nesta história de que um ajuda o outro com sua experiência, e sei que no desespero procurarmos ajuda no Google. Quem sabe eu consiga ajudar um pouquinho.

Algumas descobertas ou crenças têm me ajudado:

- A vida é curta demais, precisamos aproveitar cada momento de forma intensa.
- E isto também sugere que tudo passa, inclusive esses sentimentos ruins. Eles passam em algum momento - Graças a Deus!
- Todo mundo, qualquer pessoinha que você consegue enxergar, tem um problema grande. Um defeito que se esconde nos mais profundos cantos destes seres. A diferença é que isto ainda não os atormenta. E se chegamos aqui, é porque algo está nos incomodando, e isto nos mastiga calados.
- Eu acredito em um misto de predestinação com  livre-arbítrio. Nós temos a liberdade de decidir pelos caminhos que queremos seguir, mas acredito que todos os caminhos já estão traçados antes de nascermos, e inevitavelmente encontraremos tudo o que precisarmos encontrar no nosso percurso.
- Não precisamos nos calar. Não precisamos sofrer calados, engolir todo o choro. Não devemos ter vergonha de ser quem somos, de nossos defeitos. Devemos nos orgulhar disto. Quem nos ama, continuará nos amando, seja lá qual seja seu pior demônio. Exorcize-o com a luz da verdade.
- Você chega a ser perfeito em suas imperfeições, e único. Você tem qualidades que ninguém mais tem, por mais que você as ignore agora.
- Amar faz bem para o coração. Ame seus pais, avós, seus cachorros e gatos, sua namorada ou namorado, qualquer pessoa que te ame também!
- Você é seu melhor amigo. Na sua conversa mental (sabe a sua voz na sua cabeça?) observe-a se ela está te julgando ou te maltratando. Ela deve ser sua amiga, sua mãe. Cuidar de você com o maior carinho do mundo. Afinal, gente para julgar já tem bastante e você não precisa de uma dentro da sua cabeça.
 - Infelizmente não controlamos nossos pensamentos, e quanto mais tentamos, mais difícil se torna a tarefa. Mas podemos tentar mudar quando um pensamento ruim se inicia, ou quando a nossa conversa mental fica pesada. Muitas vezes funciona.
- A vida não precisa ser levada tão a sério. Relaxe e curta o que tiver que curtir!
- Curta mesmo! Faça coisas diferentes! Dance forró, pinte um quadro, já pensou em aprender a cozinhar comida tailandesa!?
- Não tente controlar tudo na sua vida. O que tiver que ser, será! O que é possível de se programar, ok! O que não for, relaxa e curta a viagem, por mais que pareça desagradável, é a sua viagem e você vai tirar boas coisas dela!
- Fazer exercícios físicos realmente ajuda. Estimula a produção das substâncias maravilhosas que dão sensação de prazer e felicidade (chocolate também, mas vamos precisar de muito, e muito não faz bem).

 Também é importante encarar essa deprê como uma aliada. Ela te indica quando algo está indo mal. Quando você precisa revisar suas atitudes e ações. Ela ensina, como uma professora austera, que no momento sentimos medo mas depois de muito tempo, agradecemos pelas lições.

Quando a conhecemos, quando a olhamos no fundo dos olhos, conseguimos compreender mais as outras pessoas e reconhecer que todos precisam de carinho e amor, por mais que negligenciem isto no momento.

Escrevo este texto para mim, para consultas futuras. Como que um lembrete de tudo que pode ajudar no momento down.

Talvez você esteja passando por isto, e eu quero de coração que estas palavras possam aliviar a barra para você também. Seja forte! Não se entregue!

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Precisamos aprender a sermos músicos

É tempo de aprender que não se pode controlar a vida,
Não cabe ao homem ser o maestro desta orquestra.
Cabe ao homem ser o músico.
O Grande Maestro só pode ser Deus.

Cabe ao músico sentir a música,
Não se preocupar em conduzir as próximas notas, e apenas fazer seu trabalho bem feito.

Cabe ao músico se entregar à música.
Sem medo de errar.
Porque do erro, criam-se novas músicas.
A qualidade da música não tem apenas um julgamento, mas vários.

É tempo de aprender a se entregar à música da vida!

sábado, 24 de janeiro de 2015

Envelheci

Hoje sinto que estou ficando velho. Tenho 25 anos, mas me sinto velho.

As piadas já precisam ser muito boas para roubarem minhas gargalhadas, e quanto ao meu humor, normalmente eu preciso de me lembrar de sorrir. 

As festas e bebedeiras perderam totalmente a graça, se tornaram cansativas e infantis.

Já não debato minhas convicções com pessoas que pensam diferente.

Vivo pensando em fugir para um lugar onde não tenha ninguém (exceto minha família e namorada). Onde eu possa descansar do dia-a-dia.

Sinto que me afastei dos meus amigos - e bilateralmente, eles se afastaram de mim. Talvez porque agora começam a ter suas namoradas(os), esposas (maridos), trabalho e filhos. Ou porque simplesmente fiquei velho e chato.

Sinto-me mais amargo e mais cinza.

As vezes percebo que minha habilidade de comunicação também se esvai. Demoro mais para iniciar uma nova conversa ou para puxar um assunto interessante - muitas vezes já nem puxo.

A ambição por dinheiro e conquistas materiais se anulou. Não vejo graça nenhuma em pessoas que ostentam um jaguar, ou iate. Hoje os valores do dinheiro para mim são o de manter uma casa confortável para que eu e as pessoas que amo possam descansar, o de poder viajar e conhecer novos lugares, o de me alimentar bem. Resumindo, o de manter uma qualidade de vida, sem excessos.

A política do Brasil me deixa profundamente revoltado, e aumenta minha sensação de impotência. 
Me revolta a falta de educação (em todos os sentidos) da grande parte do povo Brasileiro - que cada vez mais parece mais mesquinho, egoísta.

Já não me sinto mais importante, como me sentia quando mais jovem.
Acredito que meus (poucos)  talentos sejam bem comuns, e que não fazem falta a ninguém.

Aos 25 anos, sinto que minha alma envelheceu.

Já me perguntei a razão da vida, e como resposta ganhei uma poltrona de ônibus nos dentes da boca (e mais uma vez sobrevivi a um acidente). Seja lá o que esta resposta quis dizer, entendi que é melhor não se perguntar muito, e viver o que tem que ser vivido. 

Assim continuarei a viver dia após dia.
Um velho em um corpo jovem.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Fragmento I

(...)

Era uma daquelas noites iluminadas vagamente por uma lâmpada de mercúrio alaranjada, feia, parca. Na pele, cortava um ar gélido que eriçava os bulbos capilares à força. Mas não eram as sombras ou o vento que alimentavam aquela sensação estranha. Havia algo a mais no ambiente. Uma tensão que praticamente podia ser ouvida, como um zumbido de interferência em uma alto falante, transgredia as sensações e intuições e também praticamente podia ser tocada, como um véu invisível e espesso.

Na rua, as pessoas se movimentavam de maneira estranha também. Todos a sentiam. Era uma frenesi de corpos, carros, bicicletas, sons, buzinas e borrões de luzes em movimento. Ela podia ser sentida, mas não podia ser entendida. Nada e ninguém sabia o que estava acontecendo. Apenas sentiam.

(...)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Dia do Amigo

No dia em que se consagrou o "dia do amigo" fui levado a refletir sobre a amizade. Amizade é o rótulo (adoramos rótulos) que damos ao relacionamento que temos com outras pessoas que nos fazem sentir bem quando estamos em suas companhias. É o campo fértil para que você se desenvolva sendo você mesmo.

Amigos sempre entram em nossas vidas e, sem que percebamos, saem. Muitas vezes não se despedem. Outras vezes retornam abrindo a porta da geladeira - mesmo que tenham se passado anos. 

E sobre essa entrada repentina de novos amigos, me recordo daquela máxima: Não fazemos amigos, os reconhecemos. É incrível como novas pessoas podem ser tão importantes para nós mesmos como se fossem amigos antigos, de infância (mais um rótulo).

Ainda sobre o ponto de vista de rótulos, há algum tempo percebi que é injusto e maldoso se rotular amigos. Sabe quando você diz: "esse é meu melhor amigo" ou "tal pessoa é meu amigo do futebol"? Sério, talvez você não devamos fazer isto tão frenquentemente. Amigos são amigos, e pronto. Um dia Joãozinho será seu melhor amigo, outro dia será seu amigo confidente fiel, e quem sabe na semana que vem já será seu "faz-tempo-que-não-conversamos amigo". Mas sempre será amigo.

Mais triste ainda é quando um amigo se distancia de outro amigo porque este outro não lhe dá atenção. Você entenderá com este exemplo: "Não vou convidar o Joãozinho para sair porque ele nunca me convida mesmo". Caramba, que ciclo vicioso é esse que inventamos? Porque simplesmente não desmontamos do nosso orgulho cavalar e nos aproximamos? Amigos, vamos parar de nos evitar! Todos precisamos de amigos, somos felizes quando temos muitos amigos.

Naquele tom clichê de Natal ou Páscoa, que o dia da amizade não seja só hoje, mas que seja todos os dias de nossas vidas. Felizes Dias dos Amigos!



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sobre ela

Ela era uma menina, dessas que brincam de boneca, que andam de bicicleta, e que crescem mais rápido que o gramado de um jardim depois da chuva. De menina, se tornou uma jovem, dessas que sonham, e que se esforçam para garantir seu lugar no mundo, e sabem como chamar a atenção no momento certo.

Essa jovem, de certa forma, costumava usar bem esta estratégia. Porque ela não era a mais bonita da classe, nem a mais inteligente, não colecionava prêmios ou medalhas. Era uma jovem comum, vestida em seu uniforme escolar, repetindo dia após dia a rotina de escola e casa. Talvez, também por isso, essa menina fosse tão atraente para um garoto sem talento algum - desses que são sempre os últimos a serem escolhidos para montar um time de futebol.

Os pais precisavam trabalhar muito para suprir todo o potencial dessa garota, e assim ela se tornou um pedaço de mãe e de pai para seus irmãos mais novos. Poucos entenderão a intensidade do o amor dela para com eles. Ser co-responsável de outras vidas já quando pequena, adicionou uma certa maturidade ao seu perfil. Ela mesma já não sabia mais quando foi que se tornara adulta - não a disseram.

Então descobriu - de forma rápida e agressiva como um tapa no rosto - que se tornara uma mulher e que a vida não é feita para meninas. Desde então, luta dia após dia na busca pelo seu sucesso. Essa luta arde, como arnica na ferida. Arde e a faz forte, e corajosa - até mais que muitos homens. É difícil assumir que uma mulher é mais forte que você, quando você é um homem. E ela é.

Tão forte que, antagonicamente, é frágil em seus sentimentos. Eles são como a gema de um ovo, guardados com muito zelo atrás de uma rígida muralha de cálcio - e um ar sério - de milímetros de espessura.

Mais fácil seria contar o número de gotas de água no mar, do que descrever essa mulher em suas infinitas características. Mas o mar, é bonito e a gente não cansa de ver. Ela é assim, incansável de amar.

Para Maria Alice

sábado, 2 de novembro de 2013

Evolui

Evolui-te, que para trás não tem volta.
Cresce, que é para ajudar os menores.
Corre, que o tempo passa rápido.

Não existe chegada, nem há tempo para parada.
Não existe fim, pódio ou paraíso.
Nem mesmo o inferno existe.
Imagina inferno mais aterrorizante que o infinito?

Progride, que é melhor que ser levado pelo progresso.
Trabalhe, que é a razão em um primeiro passo mais próxima da existência.
Persiste, que é assim que a água lapida a pedra.

Não existe segurança, nem paz.
Nem mesmo a Guerra mantém a paz.
Busque a paz, porque ela está além do horizonte.
E o horizonte é inalcançável - e portanto, uma meta.

Ninguém é teu superior, nem teu inferior.
Teu próximo é teu amor, superior, maior.
Teu amor é tua razão, teu motivo.
E tua única luz, norte, guia.
Corre, Cresce, Ame, Progride, Trabalhe, Persiste, Evolui.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Espaços

Ela foi embora.
Deixou espaços por todo lado.
Sobra espaço nas cadeiras da mesa de jantar,
Espaços no sofá,
Espaços em um abraço aberto,
Espaços ao lado esquerdo da cama,
Espaços no banheiro ao escovar os dentes,
Espaços por toda a casa,
por todas ruas, bairros, cidades.
Incompletáveis.
Espaços tão vazios como meu peito agora.
Um coração que agora é um salão de festas,
depois que a festa acabou,
a última pessoa se foi,
e a luz se apagou.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Folha em vento

Uma folha em branco,
Pronta para ser qualquer coisa,
Um avião, um barco, uma música, um poema.

Uma folha da árvore,
Pronta para deixar o galho,
e voar ao vento rumo ao seu fim.

A cor branca, ou a folha verde,
Prontas para serem esquecidas,
E serem esquecidas em algum capítulo.