domingo, 31 de maio de 2009

Choro


Poeta, não caduque,
Não escute o peito que chora,
Porque choros passam.
Bom é ser criança que chora,
e coloca lágrima p'ra fora.
Depois cresce, pensa que é forte,
chora por dentro, e chora doído!
Ninguém vê, ninguém sabe.
Chora sozinho, sem beijinho.

Assim desconcertante,
Como o fluxo da vida.
Hoje você é. Amanhã você foi.
Ontem você será.
Poeta, você não apenas foi.
Mas você será, Poeta!

Porque "ser" não é assim tão fácil,
Como escrever no papel.
Porque ser também é sentir.
E quem sente, chora.
Então Poeta,
Chore.
Chore palavras, porque já não é lágrima,
Já não é sal e água. É lápis e papel.
É seu alívio temporário.
Sua droga de fuga.
Válvula de Escape.
Anestesia.
Beijinho.
Sopro.
Solidão.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Esfinge

Onipotente no deserto,
- Que durante a noite é frio.
Sente-se só, sem alguém por perto,
Porque deixar tudo tão vazio?

Por favor pare com os enigmas persuasivos,
Chega de sujeito indeterminado,
frases soltas, verbos intransitivos,
"Decifre-me ou serás devorado".

Oh Esfinge, se ainda no teu peito algo pulsa,
Se ainda resta em ti alguma emoção,
Saiba que não és de todo perfeita, uma musa,
Te faltas um nariz, e um pouco de coração.

Durante o dia, tua sina é brilhar,
Mas a noite quando é tudo tão melancólico,
Sem ninguém pra te aplaudir, observar.
É que meu peito insiste em te amar.

domingo, 10 de maio de 2009

Histórias de Viagens

Chego ao guichê da rodoviária:
- Por favor, uma passagem para Boa Esperança.
- Pois não, gostaria de escolher um lugar?
Eita, escolher um lugar... Tantos lugares bons... Tenho que escolher um bem escolhido. Um perto de uma saída de emergência (sou muito novo para morrer), mas também tem que ser perto da janela, e como sou espaçoso, quero um que diminua as chances de alguém desagradável se sente ao meu lado. Eis que salta aos meus olhos:
- Posso ficar com o número 23?
- Claro. É seu.
Barulho da impressora fazendo meu bilhete. Saí como se tivesse feito a descoberta do século! Número 23! Que gênio! Analiso as vantagens: Janela, centro do ônibus, saída de emergência, e do lado da poltrona 24! Nenhum homem em sã consciência iria pedir a poltrona 24. Aumentaria as chances de ser uma mulher bonita! Ou...

Bom, na verdade era uma sexta feira que antecedia a Páscoa. Ou seja... O ônibus iria lotar. Chego ao ônibus, sento na minha poltrona contente. Inclino-a para trás. Passa-se alguns minutos sinto alguém se sentando ao meu lado. Olho. Era um homem!!! Todos meus neurônios começaram a trabalhar, criando teorias para explicar aquele acontecimento. Será que ele era gay? Começo a reparar nas vestes, no jeito. Barba, camisa social aberta um pouco no peito. Calça jeans, sapatênis. É... não tinha muito aspecto "feminino". Mas ele pode ser um gay não assumido. Ele inclina a sua poltrona, coloca o fone no ouvido. Bom, se for gay, que diferença faz? Ele não vai me morder. Tenho alguns amigos que são gays... Nunca nem falaram nada estranho comigo. Existe o respeito. Fiquei tranquilo.

Passam se algumas horas. O rapaz começa a dormir. E como ronca! Senhor! É... às vezes penso no conforto de se ter um carro. O rapaz parecia ter um motor a diesel no lugar da garganta. Nesse meio tempo, vai outro homem ao banheiro do ônibus. Um caixote de plástico com um vaso sanitário dentro. Não é por nada não, mas reparo que o homem demora um pouquinho a mais, para sair do banheiro. Mais uma vez uma descarga de teorias. Será que ele passou mal e desmaiou? Será que ele está com alguém lá dentro? Bom, depois penso, isso também não é problema meu. Pra quê? Não é, que realmente se tornou um problema meu, aliás, do ônibus todo? O maldito tinha usado o banheiro para o famoso número 2, ou para os mais depravados, tinha cagado mesmo. Deus é pai! Além do ronco do moço estranho ao meu lado, agora estava mergulhado em um ar fétido, desses que se acender um fósforo, é uma bomba de metano na certa. Tentei desesperadamente abrir a janela. Quando uma luz de razão se apoderou do meu cérebro e me lembrou que o ônibus era ar condicionado! Ou seja... Janelas lacradas. Só poderia ser castigo. Tentei ativar o ar condicionado. Resultado: Piorou. Ah como eu gostaria de estar munido de um frasco de "bom ar" a essas horas. Acho que o cheiro estava tão "sinistro" (como dizem meus amigos) que o rapaz ao meu lado acordou. Também pudera, dormindo de boca aberta. O cheiro tava entrando pela sua boca. Tive vontade de rir. E pensei. Já que não adianta fazer nada... Abri um livro, e comecei a ler. Tragédia. Meu estômago embrulhou, fiquei enjoado. Vomitei no rapaz ao lado. Sacanagem. Mas não consegui segurar. Ele deu um grito tão diferente. Desses bem agudos. Depois engrossou a voz e me xingou. Pedi perdão, e disse que compraria outra camisa para ele. Ele se acalmou e disse que não precisava. Trocou a camisa. Menos mal. Não iria ter dinheiro mesmo. Passaram-se mais alguns minutos em que eu, sem graça de tudo, admirava a paisagem, com vergonha de olhar para o companheiro ao lado. Aliás, paisagem que nada. Mato, mato, e mais mato. Até que... Chegamos ao destino! O fim do inferno estava próximo. Pedi desculpas mais uma vez. Tudo ficou bem.

Acabou a minha via sacra. Pelo menos descobri que o rapaz era gay mesmo. E que o número 23 não está a salvo do fedor do banheiro. Aprendi também, que quando tenho essa tempestade de teorias, quase nunca penso em uma teoria útil. Na próxima, pego outro número.

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Primeira vez que tento escrever um conto. Tentei escrever um texto cômico. Baseado em uma história contada por um tio meu. Não ficou muito ao meu gosto, o conto ficou um tanto "sujo". Mas eu vou deixar registrado. Tenho uma teoria, que não devo apagar o que escrevo. rs.