domingo, 24 de julho de 2022

Encontrar-se

Chegam dias que não sabemos mais quem somos.

Nossas mentes são violentamente prostituídas,

Violentadas, humilhadas, escravizadas e remuneradas.

No outro dia acordamos, lavamos o rosto, passamos batom e parafusamos um sorriso.

Corrida pela sobrevivência - sobre a vida sem vivência.

Chegam raros dias em que os cafetões me esquecem.

Já não sei mais quem sou, o que eu gosto ou o que quero fazer.

- Me perdi nos personagens, na eterna dança de morrer.

As vezes eu encontro fragmentos de mim:

Um livro que ainda não li,

Uma foto que há muito não via,

Uma música que há muito não ouvia.

Mas logo o tempo passa, e o circo se reabre.

Espero que dê tempo de comprar minha liberdade.

Rios em mim

 Hoje percebo que em mim correm rios,

Tantos, muitos deles subterrâneos.

Existe um riachinho, um dos primeiros,

Que corre triste, melancólico.

Tem rios de águas claras e rios de águas escuras.

Rios límpidos e rios que já foram poluídos.

O que mais me incomoda são os rios enterrados,

Os rios canalizados e represados.

Estes rios, que somem de vista,

Mas que não deixam de correr.

Se eu fico em silêncio, consigo ouvi-los.

Eles cantam e ecoam por dentro.

Imploram para fluírem, destruindo casas,

Vilarejos e cidades inteiras.

Quem errou? O rio ou o humano que o ignorou?

E o que fazer agora?

Desmorono nesta questão.