sexta-feira, 25 de julho de 2014

Fragmento I

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Era uma daquelas noites iluminadas vagamente por uma lâmpada de mercúrio alaranjada, feia, parca. Na pele, cortava um ar gélido que eriçava os bulbos capilares à força. Mas não eram as sombras ou o vento que alimentavam aquela sensação estranha. Havia algo a mais no ambiente. Uma tensão que praticamente podia ser ouvida, como um zumbido de interferência em uma alto falante, transgredia as sensações e intuições e também praticamente podia ser tocada, como um véu invisível e espesso.

Na rua, as pessoas se movimentavam de maneira estranha também. Todos a sentiam. Era uma frenesi de corpos, carros, bicicletas, sons, buzinas e borrões de luzes em movimento. Ela podia ser sentida, mas não podia ser entendida. Nada e ninguém sabia o que estava acontecendo. Apenas sentiam.

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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Dia do Amigo

No dia em que se consagrou o "dia do amigo" fui levado a refletir sobre a amizade. Amizade é o rótulo (adoramos rótulos) que damos ao relacionamento que temos com outras pessoas que nos fazem sentir bem quando estamos em suas companhias. É o campo fértil para que você se desenvolva sendo você mesmo.

Amigos sempre entram em nossas vidas e, sem que percebamos, saem. Muitas vezes não se despedem. Outras vezes retornam abrindo a porta da geladeira - mesmo que tenham se passado anos. 

E sobre essa entrada repentina de novos amigos, me recordo daquela máxima: Não fazemos amigos, os reconhecemos. É incrível como novas pessoas podem ser tão importantes para nós mesmos como se fossem amigos antigos, de infância (mais um rótulo).

Ainda sobre o ponto de vista de rótulos, há algum tempo percebi que é injusto e maldoso se rotular amigos. Sabe quando você diz: "esse é meu melhor amigo" ou "tal pessoa é meu amigo do futebol"? Sério, talvez você não devamos fazer isto tão frenquentemente. Amigos são amigos, e pronto. Um dia Joãozinho será seu melhor amigo, outro dia será seu amigo confidente fiel, e quem sabe na semana que vem já será seu "faz-tempo-que-não-conversamos amigo". Mas sempre será amigo.

Mais triste ainda é quando um amigo se distancia de outro amigo porque este outro não lhe dá atenção. Você entenderá com este exemplo: "Não vou convidar o Joãozinho para sair porque ele nunca me convida mesmo". Caramba, que ciclo vicioso é esse que inventamos? Porque simplesmente não desmontamos do nosso orgulho cavalar e nos aproximamos? Amigos, vamos parar de nos evitar! Todos precisamos de amigos, somos felizes quando temos muitos amigos.

Naquele tom clichê de Natal ou Páscoa, que o dia da amizade não seja só hoje, mas que seja todos os dias de nossas vidas. Felizes Dias dos Amigos!



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sobre ela

Ela era uma menina, dessas que brincam de boneca, que andam de bicicleta, e que crescem mais rápido que o gramado de um jardim depois da chuva. De menina, se tornou uma jovem, dessas que sonham, e que se esforçam para garantir seu lugar no mundo, e sabem como chamar a atenção no momento certo.

Essa jovem, de certa forma, costumava usar bem esta estratégia. Porque ela não era a mais bonita da classe, nem a mais inteligente, não colecionava prêmios ou medalhas. Era uma jovem comum, vestida em seu uniforme escolar, repetindo dia após dia a rotina de escola e casa. Talvez, também por isso, essa menina fosse tão atraente para um garoto sem talento algum - desses que são sempre os últimos a serem escolhidos para montar um time de futebol.

Os pais precisavam trabalhar muito para suprir todo o potencial dessa garota, e assim ela se tornou um pedaço de mãe e de pai para seus irmãos mais novos. Poucos entenderão a intensidade do o amor dela para com eles. Ser co-responsável de outras vidas já quando pequena, adicionou uma certa maturidade ao seu perfil. Ela mesma já não sabia mais quando foi que se tornara adulta - não a disseram.

Então descobriu - de forma rápida e agressiva como um tapa no rosto - que se tornara uma mulher e que a vida não é feita para meninas. Desde então, luta dia após dia na busca pelo seu sucesso. Essa luta arde, como arnica na ferida. Arde e a faz forte, e corajosa - até mais que muitos homens. É difícil assumir que uma mulher é mais forte que você, quando você é um homem. E ela é.

Tão forte que, antagonicamente, é frágil em seus sentimentos. Eles são como a gema de um ovo, guardados com muito zelo atrás de uma rígida muralha de cálcio - e um ar sério - de milímetros de espessura.

Mais fácil seria contar o número de gotas de água no mar, do que descrever essa mulher em suas infinitas características. Mas o mar, é bonito e a gente não cansa de ver. Ela é assim, incansável de amar.

Para Maria Alice