domingo, 14 de março de 2010

Pedra

Não sei o que foi feito de mim.
Eu estava aqui agora pouco,
agora já "estou" outro.
Penso que não sou ninguém,
eu estou alguém.

Quantos de mim ficaram pelo caminho,
E a cada instante vão ficando.
Ainda me lembro quando era um menino,
Corajoso e disposto a mudar o mundo!
Viajar, pisar em terras desconhecidas,
sentir o mais puro amor eterno,
Conquistar o mar e ir ao espaço!

As pessoas sabem pisar nos sonhos alheios.
Ah! E como sabem!
Não as julgo, vivem da realidade
- na sua intrínseca essência.
Mas a realidade é uma pedra.
Seja no caminho ou no acostamento.
A pedra é morta, feia e geométrica.

Da pedra aproveito os sentidos,
Essa incompreensível forma de engolir a vida.
Dançar como os antigos faziam ao som dos tambores,
Tentar o mais próximo possível do êxtase.

Mas depois de tudo, sempre dormimos.
Seja por um tempo ou para sempre.
"Eta vida besta, meu Deus!"

terça-feira, 2 de março de 2010

Cachaça

Ei moço, me dá um real?
Que é pra "mim" comprar o gás,
O gás que acabou junto com o sal.
O sal da lágrima, e a pinga aqui atrás.

Ei moço, prova um bocado,
Essa é da boa! Dum alambique mineiro,
É pinga que fala por si e não deixa recado,
Ela fala, chora e até escreve um texto inteiro!

Moço não me deixe aqui sentado,
Aproxime-se um pouco, me conte sobre seu dia.
Não se assuste com meu olhar embriagado,
garanto que não pela cachaça a minha agonia.

A minha embriaguez vem de outras razões.
A minha cachaça chama-se poesia.
O seu dinheiro foi dado sem emoções,
Mas aqui estou, meu caro, a quebrar tua monotonia.